quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Com as reformas do Maracanã e as obras do Pan, corremos o risco de ver novas edificações monumentais, feitas com dinheiro público, subaproveitadas

O PAÍS DOS ESTÁDIOS
por Sócrates
Com as reformas do Maracanã e as obras do Pan, corremos o risco de ver novas edificações monumentais, feitas com dinheiro público, subaproveitadas

O Maracanã está de portas fechadas para reformas. O maior estádio do mundo como é chamado desde a construção , por culpa da sua idade avançada, estava realmente precisando de reparos para se adaptar aos novos tempos. Se bem que de nada adiantará o monte de dinheiro que lá está sendo investido se não houver preocupação com as necessidades exigidas pelo atual público consumidor.Não me refiro à elitização das dependências do estádio, não. Penso apenas no mínimo indispensável para receber bem a quem o procura quando de seus eventos futebolísticos mesmo que sejam pessoas simples e sem muitos recursos financeiros. É que a verdadeira orgia de informações que hoje cada um de nós recebe provocou uma mudança de hábitos que deve ser respeitada por quem promove qualquer tipo de espetáculo dirigido ao público.Se não se der a devida atenção a alguns parâmetros fundamentais, não se conseguirá a adesão do consumidor. Sem isso, o prejuízo sem dúvida virá.Por aqui, em geral, raramente percebemos qualquer preocupação com a viabilidade do investimento quando se realiza uma obra pública. Poucos se dão ao luxo de avaliar o futuro da empreitada e o que importa quase que exclusivamente é encontrar fórmulas para a execução do projeto, mesmo que esse, no futuro, fique parecendo um gigante adormecido. E que se dane o capital enterrado ali.O Maracanã é quase que exclusivamente utilizado para jogos de futebol, ainda que se venda a idéia de que teremos uma arena para diversos eventos. Como o futebol brasileiro de há muito se afastou de seu público, o uso dessas praças esportivas tornou-se, na maioria das vezes, economicamente inviável. Como conseqüência, os clubes estão à procura de locais mais acessíveis e menos custosos para promover seus espetáculos.Imagina-se então que estádios como o Maracanã poderão, em pouco tempo, ficar às traças durante boa parte da temporada. Ou não? O pior é que analisando as perspectivas atuais é isso o que realmente deve acontecer. Pois não é que dentro do maluco planejamento para o Pan-Americano de 2007 há a previsão da construção de outro estádio!Aliás, os novos custos apresentados ao governo federal são absurdos, mas terão de sair de algum lugar (talvez se crie uma nova loteria: a PANmania). Isso porque, a esta altura do campeonato, é impossível voltar atrás e, por conta disso, nossos dirigentes esportivos devem estar morrendo de rir. Parece até que estamos nos preparando para realizar uma Olimpíada e não apenas uma competição do nosso continente.É mania de grandeza, ou seria gula? No fim, querendo construir mais do que é preciso, acabaremos fazendo pior que a República Dominicana, que quase não terminou a tempo as obras para o último Pan. Bem, mas isso é algo para constatarmos mais para a frente. O que é difícil saber é quem vai utilizar essa coleção de estádios depois do Pan-Americano, já que alguns dos maiores clubes cariocas acabaram de reformar o estádio da Ilha do Governador e, possivelmente, devem continuar mandando seus jogos por lá. É muito espaço para pouco público.Foi mais ou menos o que aconteceu em Paris só que lá se disputava uma Copa do Mundo de Futebol com o estádio da França, que, após o mundial de 1998, vem sendo utilizado para tudo menos futebol. O PSG, time da capital parisiense, continua mandando seus jogos no antigo estádio Parque dos Príncipes.Aqui será igual e nem mesmo deveremos usar as instalações para os outros esportes como lá, porque, por essas plagas, o único a que se dá valor é o futebol. Teremos então uma situação vexatória semelhante a tantas outras que vemos por aí: prédios monumentais erguidos com dinheiro público, plantados em áreas de extrema pobreza e com utilização desproporcional ao investimento ali feito. A cara do Brasil, não é? E depois querem que a gente entenda essas ações que já nascem contaminadas pela falta de lógica, para dizer o mínimo. E não deve parar por aí. Como dizem que a Copa do Mundo de 2014 se realizará no Brasil, não se espantem se daqui a pouco os nossos dirigentes de futebol estiverem batendo na porta dos gabinetes de Brasília para levantar recursos para mais um estádio no Rio de Janeiro. Afinal, pensam eles, a liberação de verbas deve ser democrática o suficiente para contentar os interesses de todos os que mandam no esporte do nosso país. Seremos então conhecidos não mais como o país do futebol e sim como o país dos estádios de futebol.

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